segunda-feira, 16 de agosto de 2010

POR QUE É IMPORTANTE DESCOBRIR O SEU TALENTO?



"Eu gostaria muito de cantar, de ser um astro do rock and roll no palco de um imenso estádio. Tenho certeza que levaria a platéia ao delírio. Mas não tenho o principal: o dom da voz!

Quando era pequeno queria ser astronauta, mas cedo descobri que só poderia pensar nisso se fosse americano nativo. Não havia nascido na localização geográfica correta. Ah, também gostaria de ser um terrível jogador de basquete, daqueles que fazem as    “enterradas”, penduram-se na cesta e, ao final, ainda fazem aquela cara de quem pulou o muro do vizinho para roubar goiaba e saiu andando! Deve ter um gosto todo especial fazer isso, não? Só que eu não tenho a altura necessária. Jamais conseguiria pular acima dos 3,05m para poder fazer uma cesta assim.

Afinal, talento é algo que se aprende? Depende do quê?

Jorge Sabongi
Talento é um dom! Nascemos com ele ou com eles.

Vou procurar fazer uma analogia sobre o "processo do talento". Ele se assemelha a uma série de sementes invisíveis que possuímos desde que nascemos. Todos nós temos nosso punhado de sementes.

Ao longo da vida, poderemos nem tomar conhecimento que essas sementes existem ou, devido a um estalo ou à percepção de um sinal, poderemos semear e, após o tempo devido, colher os frutos gerados. Outra possibilidade é que uma delas caia no chão, na hora e lugar certos, sem que percebamos, e comecem a germinar, surpreendendo-nos, por ignorarmos a existência dela, e a todos os que o rodeiam, pois igualmente nem imaginavam que aquela semente pudesse estar em nós.

A questão é saber em que momento de nossa vida essas sementes deixarão de ser invisíveis e comecem a nos agraciar.

Há pessoas que jamais vão descobrir talento algum em si mesmas, por não procurarem ou pela vida que levam não permitir a descoberta.  Eu, por exemplo, só fui descobrir que poderia tocar snujs aos 23 anos de idade, depois de ter uma Casa de Chá Egípcia.  Antes disso, eu sequer sonhava com esse instrumento ou imaginava que poderia ter alguma habilidade extra nos dedos, além da datilografia. Imagine você, onde eu poderia ter descoberto este talento se tanta coisa não tivesse acontecido antes!?  Ao longo dos últimos anos, por estar sempre atento as situações, consegui descobrir alguns outros também.  Quantas sementes mais vão se tornar visíveis para mim?

Quantas pessoas visualizam uma(s) semente(s), descobrem seu(s) talento(s), e, por estar(em) nas mãos certas, desenvolvem-no(s)?
Quando comecei a fazer Economia, detestava a matéria “Estatística”. Havia, na época, um professor tão bom, com uma didática tão apaixonante, que reverteu esse processo, fazendo-me não só um ardoroso simpatizante dos cálculos, como também me permitiu desenvolvê-los de cabeça. Essa semente deu-me uma imensa árvore, da qual, até hoje, concede-me seus frutos. Sem imaginar, eu possuía esse talento. Se isso ocorre com uma matéria de cuja aula fugimos, poderá acontecer com as artes.

Outro fator importante é o lugar certo na hora certa. Imagine você, um Ronaldinho jogando futebol num campo de várzea de uma cidade interiorana (antes de ser o Ronaldinho da Seleção, claro!). Ele vê sua semente. Ele percebe uma plantinha. Algo nele o instiga a continuar fazendo o que gosta. Uma hora, sua estrela vai brilhar. O mesmo se aplica a uma modelo altamente requisitada nos dias atuais, quando esta não tinha fama. Tente imaginar como ela era na sala de aula de uma faculdade, por exemplo. Ela se olha no espelho todos os dias, sabe que possui as curvas certas nos lugares certos. Mas falta alguma coisa. Investe em si, na forma de andar, no jeito, na personalidade, na etiqueta, até chegar o momento. Sua semente já é visível para ela, mesmo que não tenha toda a produção e mídia fazendo o trabalho de base.  Num determinado momento da vida, ambos estavam no lugar certo e na hora certa.  São descobertos!  E aí tudo muda de figura... 

Uma coisa é indiscutível: pessoas que desenvolvem algum talento específico precisam de alguém que, permanentemente, oriente-lhes e incentivem suas ações. Dificilmente artistas caminham sozinhos ou desenvolvem a conduta correta em suas artes sem amparo específico. Funciona como um pai para colocar equilíbrio e chamar a atenção para as coisas erradas, e um avô, para passar a mão na cabeça e dizer que é lindo e pode funcionar.


  Pessoas que não têm o menor dom, se colocarem uma força de vontade excepcional, podem fazer germinar uma semente, e se surpreender. São raridades, mas conheço casos assim. O tempo fez o trabalho de florescer. Essas pessoas têm que se mostrar extremamente envolvidas e comprometidas com sua arte e, principalmente, consigo mesmas. Para elas, a semente não se torna visível tão facilmente. Suas tentativas devem ser feitas com bastante veemência para se desenvolverem. Aqui entra o fator motivacional dos envolvidos no processo: orientadora não desiste da aluna e vice-versa.
A orientadora é responsável por transformar essas sementes invisíveis em visíveis. Se a aluna se desenvolve rapidamente, talvez mais do que a própria professora, é importante que ela seja encaminhada, imediatamente, para quem possa oferecer a direção adequada. Caso contrário, pode-se matar a raiz de uma árvore promissora.

Em sala de aula, o dom não brota e simplesmente se transforma da noite para o dia. É um trabalho de paciência e de anos. Proporcionalmente, uma em cada mil aprende no tempo relâmpago de um a dois anos. No mais, não existe milagre. São, no mínimo, quatro anos de árduo aprendizado para oferecer equilíbrio e desenvoltura. Varia de mulher para mulher. O tempo não pode ser delimitado, mas o período sim. Existe ainda uma regra fundamental: a necessidade de mãos competentes ensinando. Portanto, a direção artística começa em sala de aula.

Talentos não se acham; são descobertos.
Jorge Sabongi - Agosto/2004

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