quinta-feira, 2 de setembro de 2010

CONHECENDO A HISTÓRIA DA NOSSA ESCOLA

COLÉGIO ESTADUAL "TOBIAS BARRETO"
Prof. Arionaldo Moura Santos

Esta Escola tem um passado histórico de grande relevância na educação sergipana pois, sua trajetória vem do início do século XX, quando foi fundado na cidade de Estância pelo professor José de Alencar Cardoso,(1) em 09 de maio de 1909, passando a funcionar em Aracaju a partir de 1913. Segundo relatos encontrados no livro da professora Maria Thétis Nunes - História da Educação em Sergipe, era urna de suas características a militarização adotada.

Funcionou nesta Escola o 1º Tiro de Guerra do Estado, que, mais tarde, se transformou na Escola de Instrução Militar. Na década de 1920, era frequentado pelo elemento feminino. Passando para a administração do Professor Alcebíades Melo Vilas Boas, esteve em atividade até 1969, quando o Governador do Estado Dr. João Andrade Garcez adquiriu os prédios e, em 1976, no Governo do Dr. José Rollemberg Leite, foi instalada a Escola de 1º e 2 º Graus "Tobias Barreto". Estão guardados nela os arquivos do antigo Colégio "Tobias Barreto" e da Escola Técnica de Comércio de Sergipe.

O Colégio Tobias Barreto, pela sua tradição, pela sua notável parcela no setor da instrução em Sergipe pelo empenho que os mestres dessa Casa têm em realizar o aprimoramento moral e mental da juventude, sem dúvida é o educandário que mais tem pugnado pelo engrandecimento intelectual de Sergipe. No decorrer das homenagens dos 30 anos de fundação do tradicional Colégio Tobias Barreto, cuja recomendação melhor está presente na pessoa do seu diretor e superintendente, professor José de Alencar Cardoso, popular mente conhecido, professor Zezinho, o Diário Oficial do Estado, registrou em suas páginas, da edição de 10 de maio de 1939, a extensa programação de suas festividades, bem como alguns depoimentos sobre o Educandário:

“O Colégio Tobias Barreto, ministrando com o máximo de preferência, graças ao selecionado corpo docente que mantém o ensino das disciplinas secundárias, da educação física e da música, sob regimes de externato, internato e semi-internato, militarizado, com um departamento feminino também já muito desenvolvido ocupa uma posição de justa saliência entre os bons educandários do norte do país.

Atingindo tal adiantamento e o renome que hoje desfruta, devem ambos a essa figura admirável de preceptor e formador de jovens consciências, para quem se dirigem os aplausos e protestos de reconhecimento partidos de todas as camadas sociais, contempladas, sem acepção de pessoas, pela solicitude e generosidade de preclaro educador sergipano.”

Três anos mais tarde, durante as festividades do trigésimo terceiro aniversário do Ginásio, em 9 de maio de 1942, não havendo em sua trajetória nenhuma interrupção, a direção homenageou o professor e poeta Artur Gentil Fortes (1881-1944). Na sessão solene falou em nome do corpo discente, o aluno José Bonifácio Forte, filho de Arício de Guimarães Fortes, que proferiu um expressivo discurso, solicitado pelo professor Alencar Cardoso:

“Não sei como exprimir o reconhecimento sincero dos seus alunos desse estabelecimento pelo benefício que ele nos irá prestar, no aprimoramento da nossa cultura, dedicando-se de ora por diante, exclusivamente neste educandário, ao ensino da cadeira de História Pátria e da Civilização.

Sábado passado, deixou, esse querido mestre, com as saudades de seus alunos do Ateneu Sergipense, a cátedra que ali honrou por mais de 26 anos.
Os médicos da Junta médica oficial acharam chegada a hora de forçá-lo a descansar um pouco da luta gloriosa que encerou oficialmente a 5 de julho de 1916, quando o Governo Estadual de então o nomeou professor vitalício da Cátedra de História Geral e do Brasil daquele Ateneu.”

Em seguida representando o Corpo docente, falou o professor José Calasans, proferiu uma eloquente e substanciosa oração alusiva à vida do referido educandário e ressaltou, pormenorizadamente, o valor do professor Artur Fortes como homem de letras e grande didata e conhecedor profundo da História da Civilização e do Brasil. Por último, agradecendo a homenagem que acabara de receber, o professor Artur Fortes proferiu um longo discurso de agradecimento:

“Que enfadonha monotonia a da existência, se o seu imenso cenário multiface não fosse uma multiplicação continua de contrastes. O anseio de eternidade da vida, bem o sabeis, encontra razão de ser na lei universal de perpetuidade da morte. E como lógica consequência, gerações que sem descontinuidade se sucedem herdeiras do conseguido, desejosas de conseguir; e sempre assim, numa como maravilhosa corrente, cujos opostos extremos, principio e fim, só na piedosa mentira da crença encontram enganosa e confortadora explicação.

Os que ficam e os que vão! Dentro do presente, os que olham melancolicamente para traz e os que caminham resolutos e iluminados para frente!”

Ao encerrar a sessão, o professor Acrisio Cruz usou a palavra, ressaltando as atividades educacionais do Ginásio Tobias Barreto, de cujo corpo docente ele se orgulhava de fazer parte e concluiu pondo em relevo à obra do professor Alencar Cardoso a quem Sergipe inteiro admira pelo muito que tem feito à causa do ensino no Estado.

Inspetor Geral – nomeado Inspetor Geral do Ensino Primário, pelo coronel Augusto Maynard Gomes, o professor Alencar Cardoso, passa a responder pelo expediente da Escola Normal - Rui Barbosa, ganhando aquele estabelecimento de ensino mais uma grande oportunidade para cumprir as suas finalidades, dentro da sociedade sergipana:

“Com um tirocínio do magistério que o torna entre nós, o maior educador de todos os tempos, o governo de Sergipe há de ter no professor Alencar Cardoso um auxiliar a altura dos seus desejos de dar mais amplitude no programa de ensino que se traçou e tão bem defendido é pelo dr. José Rolemberg Leite, ilustre diretor geral da Instrução Pública, e melhor amparação por vultos de destaque do professorada sergipano.” (...) “O professor Alencar Cardoso mais uma prova de que Sergipe, pelos seus pró-homens, sabe recompensar os esforços de seus filhos e premiá-los com a sua elevação aos postos que podem honrar.” Registra o Diário Oficial do Estado;

No início de 1943, o professor Alencar Cardoso esteve alguns dias no Rio de Janeiro, onde teve ocasião de receber da grande colônia sergipana ali domiciliada as mais inequívocas provas de respeito e consideração, exteriorizada nas espontâneas manifestações afetivas que lhe foram prestadas. O Diário Oficial do Estado de Sergipe, edição de 21 de março registra:

“Durante o tempo em que permaneceu no Rio de Janeiro, o Inspetor Geral do Ensino Primário procurou manter estreitas relações com as figuras de maior proeminência do magistério carioca, procurando conhecer melhor a organização dos diversos serviços municipais e federais referentes ao nobilitante mistér de ensinar e educar. Com os resultados dessa viagem do Prof. Alencar Cardoso, muito terá, pois a lucrar a instrução pública sergipana.”

A partir de 1942, o Colégio Tobias Barreto é incorporado a Cooperativa de Assistência Financeira do Ensino e Cultura da Mocidade de Sergipe, contando com o apoio do Coronel augusto Maynard e segundo seu diretor não sofreria qualquer transformação radical na sua estrutura educacional, continuaria, dentro da “Cooperativa” a funcionar sob o aureolado nome original – o do seu imortal e glorioso patrono. Na Circular (Meus dignos patrícios e co-estaduanos) assinada pelo professor José Alencar Cardoso, publicada em 8 de julho de 1942 no Diário Oficial do Estado, Cardoso inicia dizendo que:

“Cumpro o grato dever de levar ao vosso conhecimento que o Ginásio Tobias Barreto, tesouro de várias gerações sergipanas, até então, de minha exclusiva propriedade, desde que iniciou suas atividades pedagógico-educativas, vai para mais de trinta anos, aderindo aos largos e superiores propósitos da “Cooperativa de Assistência Financeira do Ensino e Cultura da Mocidade de Sergipe”, recentemente fundada nesta capital e que persegue o amplo objeto de congregar professores e alunos e todos quantos desejem cooperar na obra educacional da mocidade de Sergipe, estreitando-lhe os laços de aproximação, acabar de ser incorporado a essa novel e futurosa Sociedade.

Nenhuma idéia mais patriótica e fraternal não poderia ter surgido nesse sentido, que esta – a de sair do estreito campo em que agem os educadores de Sergipe, à míngua de capitais, para execução de um plano qual seja o prometido pelos estatutos da Cooperativa, que tem no seu programa de ação dotar Sergipe de Escolas superiores, construindo amplos edifícios onde impere um perfeito senso de conforto e ambiente propício ao ensino sadio e técnico, assistência médica, dentária e hospitalar, além de evitando o intermediarismo, proporcionar, por baixo custo, livros, objetos escolares e tudo quanto constitui despesa maior para os estudantes.”

E finalizando a longa Circular, “Fazendo-vos como me cumpria, a presente comunicação, tenho por último o prazer de oferecer-vos meus serviços e meu maior interesse para solução dos problemas educacionais da esperançosa juventude dessa privilegiada terra, nos domínios das coisas espirituais e, bem assim, ao que se reporte à admissão de candidatos aos diversos cursos do Ginásio Tobias Barreto”, com uma maior amplitude dentro no programa de ação da “Cooperativa de Assistência Financeira ao Ensino e Cultura da Mocidade de Sergipe.”

FUNDAÇÃO: Como unidade da rede estadual de ensino, foi fundada em 9 de janeiro de 1976, através do Decreto3328176, na administração do Dr. José Rollemberg Leite e do Secretário da Educação e Cultura Prof. Everaldo Aragão Prado.

DENOMINAÇÃO: Foi batizada pelos seus fundadores de 'Colégio "Tobias Barreto", os quais assim prestariam homenagem a uma das figuras mais expressivas do mundo intelectual sergipano e brasileiro Tobias Barreto de Menezes. Ao ser adquirido pelo Estado, foi mantida a denominação, passando a chamar-se Escola de 1º e 2º Graus "Tobias Barreto". Hoje, é Colégio Estadual "Tobias Barreto".

LOCALIZAÇÃO: Está localizada na Rua Pacatuba, n. 288, Centro - em Aracaju - Sergipe.

AUTORIZAÇÃO: Foi autorizada a funcionar pela Resolução n. 39/76 de 3 de junho de 1976, sendo reconhecido pelo mesmo ColegiaRo pela Resolução 31/81 de 25 de março de 1981.

CURSOS OFERECIDOS: Estando situada em local privilegiado, goza de grande preferência pela sociedade sergipana na procura dos cursos nela ministrados. Em 1990, por exemplo, eram oferecidos: 1º grau - da 5ª à 8ª séries; Contabilidade e Administração - em nível de 2º grau.

MATRÍCULA: Em 1990, a matrícula atingiu o total de 1.200 alunos no 1º grau e 650 no 2º grau, distribuídos em 39 turmas, nos três turnos, assistidas por técnicos em Pedagogia e professores em sua totalidade portadores de curso superior, sobretudo, licenciados, com uma filosofia de ensino seguindo o princípio "Servir e Educar".

ADMINISTRAÇÃO:: Este Colégio sempre contou com grandes equipes administradoras:
1978 - Prof. José Araújo Santos,
1979 - Antônio Dantas, - diretor,
Geraldo José Santana - vice-diretor;
1983- Maria da Conceição Lisboa Alves de Almeida - diretora
1984 - Maria da Conceição Lisboa Alves de - diretora,
1987 - Maria Helena Silva Freire - diretora,
Geraldo José Santana - vice-diretor,
Maria da Graça Rolemberg Azevedo - vice-diretora,
Maria Enalva Andrade Santos.
1991 - Maria da Graça Rolemberg Azevedo - diretora,
Geraldo José Santana - vice-diretor, _
Maria Enalva Andrade Santos - vice-diretora, ,
Ruth Prado Barreto - vice-diretora;
1993 - Pedro Amado de Oliveira Nunes - diretor,
Geraldo José Santana - vice-diretor;
Gladston Batalha de Góis - vice-diretor,
Ruth Prado Barreto - vice-diretora,
Luiz José de Santana;
1995 - Geraldo José Santana - diretor,
Maria Ortênsia de Melo Cardoso - vice-diretora,
Júlia Alta Sá Trindade - vice-diretora
1997- Katia Suyane Travassos S. Araújo- diretora
2000 - Júlia Alta Sá Trindade - diretor,
Maria das Graças Menezes - coordenadora,
Rosa Maria Araújo de Oliveira - coordenadora,
Rosa Maria Martins Santos - secretária.
2003 – Jacy Souza Santos – diretora
2007 – Leilde Aquino Santana de Souza - diretora



(1)- Expulso da Escola Militar do Realengo em virtude de ter se envolvido na revolta de novembro de 1904, retorna a Sergipe o professor José Alencar Cardoso (1878-1964) e funda em 9 de maio de 1909 na cidade de Estância este educandário que completa cem anos de funcionamento ininterruptos. Educador de rara têmpera a quem deve o Estado a formação cultural dos seus mais dignos homens, Professor Zezinho jamais deixou de lado o seu reconhecimento aqueles que integravam o seu corpo docente, do qual faziam parte os maiores vultos da intelectualidade sergipana.
A Revolta da Vacina – No caótico processo de urbanização, a falta de saneamento básico e higiene pública eram regra e criavam um quadro propício para a proliferação de doenças e epidemias que deveriam ser combatidas. Com o tempo essa questão deixou de ser apenas um problema médico-sanitário para transformar-se numa questão social e política. Em 9 de novembro de 1904, o governo decretava a obrigatoriedade da vacina contra a varíola.
Comandava a campanha o Dr. Oswaldo Cruz, jovem promissor àquela altura, responsável pela diretoria da Saúde Pública da capital Federal. O Governo de Rodrigues Alves (1902-1906) que havia negado a demitir Oswaldo da direção do Departamento, mais uma vez resistiu às pressões, recusando-se a desligar o ministro da justiça de sua equipe de governo. A situação tornava-se cada vez mais complicada para o Presidente. Em 14 de novembro, a ação popular continuava a paralisar o dia-a-dia dos cariocas e, nos comícios, o presidente e o médico Oswaldo Cruz era apontado como os maiores inimigos do povo.
Por isso, à noite, alunos da Escola Militar da Praia Vermelha e outros militares do Realengo, entre eles o cadete José Alencar Cardoso, rebelaram-se contra o presidente. Desconcertados com a debandada das forças leais ao presidente, os alunos da Escola Militar, ao invés de continuarem a marcha em direção ao palácio do governo, preferiram procurar um tenente conhecido que morava nas proximidades. Como não encontraram o oficial que poderia liderá-los, os cadetes desistiram de atacar o palácio onde se encontravam Rodrigues Alves e um pequeno grupo de civis e militares fiéis ao presidente da República. O governo perdeu completamente o controle da capital, só retomando com a ação do Exército, da Marinha e da Guarda Nacional. A Revolta tornou-se epidêmica.
Segundo o jornalista Zózimo Lima (1889-1974) em artigo publicado no Correio de Aracaju em 28 de setembro de 1945 e republicado em Variações em Fá Sustenido (2003) tece comentário acerca das boas ações praticadas pelo professor Zezinho, comparando-as com as desenvolvidas por São João Bosco (1815-1888), que se preocupava com o destino das crianças pobres e abandonadas, por isso fundou a consagração dos Padres de São Francisco de Sales, ou salesianos (1851) e a congregação das Filhas de Maria Auxiliadoras, ditas salesianas (1872), ambas dedicadas à educação e à instrução profissional das crianças do povo. Assim escreve Zózimo em sua crônica:
“Narro-o porque pratico um ato de reconhecimento. (“Nullum officium referenda gratia magis necessarium referenda gatia magis necessarium est. “) – Cícero. Encontrei-me, certa feita, vai para pouco mais de um lustro, a braços com situação financeira mui difícil, decorrentes de sucessivos casos de moléstia na família. Quando fui avisar ao professor Zezinho que deliberara, por não mais dispor de recursos, retirar dois filhos do seu Colégio, opôs-se ele ao meu intuito com a declaração de que os meus rapazes, mesmo sem pagar, lá terminariam o curso secundário. Agradeci-lhe a generosidade e esperei que passasse a tempestade para que meus filhos reiniciassem o curso interrompido.

“Jamais pôde ele, decorrente desses atos de proteção ao estudante pobre, amealhar qualquer importância para proteger-se, na velhice, contra os azares da sorte.”
Apesar de ser funcionário público, José Alencar Cardoso, era pobre e não possuía um lar próprio onde pudesse viver seus últimos dias tranquilamente. Pai, nos bancos escolares e fora deles. Professor Zezinho, mestre e formador de gerações, o descobridor de futuros talentos, ídolo de uma geração inconformada, por suas mãos passaram as lições tomadas por rapazes e moças de todas as condições sociais.

A imortalidade do seu nome será de pequena valia para o tanto que fez com paciência, desenvoltura e boa vontade. O Professor José de Alencar Cardoso, filho do poeta estanciano Severiano Cardoso (1840-1907), faleceu nas primeiras horas da madrugada de 4 de maio de 1964, nesta capital em sua residência à Avenida João Ribeiro, 1244, sendo o sepultamento realizado com enorme acompanhamento, no cemitério Santa Isabel. O Governador do Estado, Sebastião Celso de Carvalho, ao ser informado sobre o falecimento do professor Zezinho, decretou feriado escola e determinou à Secretaria de Educação, Cultura e Saúde, providenciar para convocar as representações dos diversos estabelecimentos de ensino quer público ou particular comparecimento no sepultamento do inesquecível educador.

Em companhia do Dr. João Marques Guimarães, Secretário de Imprensa e Capitão Nívio Matias, ajudante de Ordens, esteve na residência do falecido onde apresentou condolências à família enlutada e comunicou-lhe a decisão do Governo do Estado de custear os funerais. Após o velório, o Chefe do Executivo enviou uma coroa fúnebre, com os seguintes dizeres: “Ao Professor José de Alencar Cardoso,, Mestre inesquecível de tantas gerações, homenagem do Governo do Estado.” Em seguida o Governador Celso Carvalho juntamente com Secretários de Estado e membros da Casa Civil e Militar, compareceu aos funerais do saudoso professor.

Jornalista Gil Francisco Santos

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