terça-feira, 5 de outubro de 2010

SANTO SOUZA - POETA SERGIPANO


SANTO SOUZA
José dos Santos, nasceu em 27 de janeiro de 1919. Aos 13 anos, o menino Santo Souza já falava de amor em seus poemas. José Santo Souza ilustre filho de Riachuelo um dos maiores poetas vivos do país, viveu em sua cidade natal até os 17 anos trabalhando em farmácia, e em Aracaju, ele continuou trabalhando no ramo onde aprendeu a manipular medicamentos com a mesma maestria que o conservou na função por 26 anos. Somente em 1938 ele retornou à poesia.
Por puro desencanto, Santo Souza parou de escrever e foi se dedicar à música, aliás, com todo auto-didatismo que lhe é peculiar. Estudou música aos 15 anos como se estivesse estudando aritmética, talvez por isso aprendeu a tocar em três meses, inclusive compondo para clarineta algumas valsas para a namorada,
Autor de 14 livros, todos poemas, sendo o primeiro livro publicado “Cidade Subterrânea” (1953) e assim suas obras vieram sucessivamente como: “Caderno de Elegias” (1954), “Relíquias (1955), “Órfica” (1956), “Pássaro de Pedra e Sono” (1964), “Concerto e Arquitetura” (1974), “Pentáculo do Medo” (1980), “A Ode e o Medo” (1988), “Obra Escolhida” (1989), “Âncoras de Arco” (1994) e “A Construção do Espanto” (1998), “Rosa de Fogo e Lágrima” (2005).

 
ALGUMAS POESIAS DE SANTO SOUZA

                          MOÇA CHAMADA ROSA


 Impossibilitada de viver,
 Impossibilitada de morrer,
 a empregadinha voa da
 janela azul do décimo
 andar e se transforma
 numa dolorosa máquina
 de pranto e de estupor.
 NUMA DOLOROSA MÁQUINA

DE PRANTO E DE ESTUPOR
 De repente os télegrafos
 do mundo anunciam a
 heróica aterrisagem
 da louca aviadora num
 monte de lágrimas  breves
 E do  fundo da sarjeta,
 das estalagens da lama
 um obscuro nome de mulher se transforma
 em manchetes de sangue
 nas páginas dos jornais:
 MOÇA CHAMADA ROSA VOA E VIRA NO ASFALTO
 ROSA ENSANGUENTADA.



                      ROTINA VERTICAL

Pensando
afasto
a vida
e vejo
o mundo
na
v
e
r
t
i
c
a
l
i
d
a
d
e azul
de sua queda.
Pensando
permaneço
e vejo
o homem
rir
e ocultar as lágrimas
nas mãos.

                  JOÃO, O SEMEADOR

É de lama que se inventa
uma choupana pra Jõao:
Jõao- Nordeste, Jõao- da -Terra,
sem terra de plantação.

Jõao com os filhos como aranhas
na teia da imaginação,
dançando a dança da morte,
morrendo de inanição.

Jõao- Roceiro -do -sertão,
João fugindo pra cidade,
João imenso na humildade´
João. crescendo em compreensão.

João tão magro, João tão leve´
que o vento da rua leva
sua voz pra onde quer.
João com filhos e a mulher.

batendo de porta em porta:
ela viva, porém morta
de tanto ouvir e calar;
ele morto de arrumar
noites, pedras, amargura.

Mas joão descobre: a palavra
se faz luz sobre a coivara,
na terra do coração,
Por isso, sendo ele João,

(João sem nome, simples João)
o plantador de sementes
nas terras de seu patrão,
resolveu semear as almas;

plantar palavras-plantar
idéias, luz nos caminhos
luz dentro da selva escura,
luz na terra, luz no mar.

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