terça-feira, 5 de outubro de 2010

JOÃO RIBEIRO - POETA SERGIPANO




JOÃO RIBEIRO
(1860-1934)
  João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes, jornalista, crítico, filólogo, historiador, pintor, tradutor, nasceu em Laranjeiras, província de Sergipe e faleceu no Rio de janeiro, onde fez carreira depois de cursar Medicina, sem concluir o curso, na Bahia. Por concurso público, trabalhou na Biblioteca Nacional e depois no renomado Colégio Pedro II, na cadeira de Português. Estudioso de filologia, o que o levou a ter um papel decisivo nas reformas da própria língua nacional. Chegou a fazer estudos de pintura na Europa e a expor seus quadros mas foi no jornalismo e na literatura onde recebeu o reconhecimento por sua contribuição. Foi membro da Academia Brasileira de Letras.
Obra poética: Tenebrosa lux (1881), Dias de sol (1884), Avena e cítara (1885) e Versos (1885)
ALGUMAS POESIAS DE JOÃO RIBEIRO


          Ao Partir

Eu vou deixar-te: agora é que começa
Da dor oculta a mágoa declarada
Eu vou deixar-te, adeus! Tenho guardada
A nossa antiga e válida promessa

Hei de levar no coração impressa
A tua imagem pálida e magoada!
A fim de que porém não falte nada
Para que minha dor inda mais cresça

A noite, o negro céu indefinido
Há de lembrar-me o brilho comovido
Do teu olhar sereno e satisfeito.

Enquanto o fero mar, fundo e gemente,
Me lembrará continuadamente
As convulsões de meu ferido peito.
        1881

                       Teu Olhar

 
Teu doce olhar puríssimo, e radioso
Minha cândida flor estremecida,
Teu doce olhar é um fluido perigoso
Que pode envenenar-se toda a vida.

Tem ele o sabor cru e setinoso
D'uma esquisita, e oriental bebida
Cuja aroma fatal propina o gozo
E logo após o tédio do suicida

Sim! Esse fluido ethereo e desejado
Que desce para mim a toda hora
(e desce porque eu ajoelhado)

Há de ser-me fatal logo ou agora...
porque ele encerra, num momento dado,
A noite escura e ao mesmo tempo a aurora

        1884


               Duas Almas 
Quando meu pai morreu nasceu meu filho,

Nem se poderem ver, meu pai morrendo!
Suas almas, entanto, num só brilho
Ambas, uma pulando, outra descendo.
Deveriam tocar-se no caminho...
Porque no mesmo instante, lastimando,
Eu vi deserto e solitário um ninho,
E outro ninho de súbito cantando.
N'uma alegria e n'outra dor imerso
Não sei qual senti amis dor!alegria!
No mesmo dia em que cantava um berço
Chorava a tumba no mesmo dia.
Tu, meu filho, meu pai hás de lembrar-me,
Tu que o encontraste no caminho santo.
Hei de cantar-vos ambos n'uma só carne,
Hei de chorar-vos ambos num só pranto


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