segunda-feira, 2 de junho de 2014

POETA SERGIPANO "JEOVÁ SANTANA" NO COLÉGIO ESTADUAL "TOBIAS BARRETO"

O "IX PRÊMIO TOBIAS BARRETO DE POESIA" homenageou o escritor Jeová Santana. Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer um pouco de sua biografia, de suas poesias e conversar com o escritor, que gentilmente partilhou um pouco de sua história e conhecimentos com os alunos.  
 ENTREVISTA FEITA PELOS ALUNOS AO ESCRITOR JEOVÁ SANTANA
  1. Como foi sua infância? Desde pequeno você queria ser poeta?

A minha infância foi em Aracaju, na rua, nos campinhos de  futebol, subindo em árvores, brincando de bola de gude, pembarra, manja, esconde-esconde. Sempre fui ruim em tudo, menos no futebol. Nele fui mais longe: ocupei o segundo quadro do “glorioso” Náutico Futebol Clube, do bairro Santos Dumont. A primeira lembrança de criação com a palavra vem de  uma paródia da música “Toró de lágrimas” da dupla Antonio Carlos e Jocafi:  “Toró de lágrimas/Foi o retrato doído que você deixou/Foi um momento de sede que a fonte secou”, Na minha versão: “Toró de chuva/ (...) tive uma dor de barriga/e tomei Anador”. Escrever mesmo só mais tarde, no antigo “1º. Grau”, quando me deparei, na biblioteca da Colégio  Olavo Bilac com o  poema “Crepúsculo de Outono”,  de Manuel Bandeira”.
2. Por que você resolveu ser poeta? Com quantos anos você escreveu sua primeira poesia?  Como seus pais reagiram? Eles te apoiaram?


         Meu pai gostava de ler jornal. Um dia ele me  deu uma definição de poesia que esqueci: ”Esse negócio de poesia parece uma pessoa falando sozinha no meio da rua.” É isso mesmo, é a imagem de uma pessoa voltada para si, só ela sabe de sua “viagem”. Ninguém consegue entendê-la. Entendo isso como uma metáfora do empobrecimento que acomete a poesia quando tentamos  explicá-la.

3. Existe alguém que te influenciou a escrever poemas? Hoje como grande poeta, você agradece especialmente a alguém por te apoiar o tempo todo? Quem?

Não sou um grande poeta, tenho só 1,78. O grande incentivador é a vida foi, é e continuará sendo a vida.

4.Como foi que você aprendeu a fazer poesia? Tem um momento certo que você faz poesia ou você faz em qualquer momento?

          Não sei se aprendi a fazer poesia. Considero-me um aprendiz em relação a esta arte que tem mais de quatro mil anos. Quanto ao ato de  escrever, não há fórmula. No primeiro momento pode ser mesa de bar, sala de espera, avião etc. Depois reescrevo. Para criar, não preciso  estar  isolado do mundo.
5. Você já sofreu algum tipo de preconceito por causa da profissão de poeta? Quando você se apresentou para a família de alguma namorada rolou alguma pergunta sarcástica por você ser poeta?

Quando a gente se apresenta não diz que é poeta, pois viver só de palavras não é possível. Eu tive uma recusa inicial, por parte de uma irmã de uma namorada, por morar no Santos Dumont. Depois que ela soube do professor e do escritor, mudou de atitude. Inclusive foi ao lançamento do primeiro de contos, Dentro da casca em 1993.
6.  Você já escreveu alguma poesia baseado no que você viveu? Você já se inspirou em algum amor que te fez sofrer? Você já escreveu uma poesia para uma pessoa? Qual a sensação? Para escrever precisa de sentimento?

Sim,  para tudo na vida é preciso ter sentimento. O cotidiano e  a vida inspiram. A vida é maior que a poesia. 

7.  Em quê você se inspirou para escrever o “Poeminha do desespero” e “A Ponte do Imperador”?

A Ponte do Imperador é um “marco da engenharia”, pois é um ancoradouro, ou seja,  liga o nada ao nada. O bacana é que ela está na  rua mais bonita do mundo, na minha modesta opinião, que é a rua da Frente. O “Poeminha do desespero” é dedicado aos sofrimentos do amor, às mil formas de querer  estar perto de uma pessoa desejada.

8. Sobre o quê você mais gosta de escrever?

Não tenho preferência. Desafio é escrever para criança. O que me toca vou escrevendo.

9.  Como é a vida de poeta?  Dá dinheiro? Se  o senhor não fosse poeta o que seria? Como você leva a vida? Qual o seu maior sonho?

          Não sou poeta, sou professor.
10.  O que te inspira? Qual o ambiente que mais te inspira? Como você tem criatividade para escrever poesia  e fazer um livro?  Você tem dificuldade para fazer um poema? Os poemas que você faz são com palavras do dia a dia?Quantas  você  já escreveu?

Poesia é diferente de poema. Se eu li e não me tocou só há poema. A poesia está no texto, na rua, no batom. Não  está só no verso. Está em qualquer ambiente. Tudo me inspira.  Já publiquei três livros de conto. Em 2012 publiquei meu primeiro livro de poemas.
11. Quando você publicou seu primeiro livro? É difícil fazer um livro de poesia? Quais as dificuldades que você teve para publicar um livro? É difícil ser um poeta famoso? Qual o momento mais difícil e sua carreira? Você tem apoio no seu trabalho?

Publicar livro não é fácil. No primeiro tive a sorte de receber “menção honrosa” no Concurso Núbias de Contos promovido pela extinta Fundação Estadual de Cultura; no segundo houve o apoio do SESC/SE.  Mas entrei com metade da grana para a edição; o terceiro foi bancado pelo Banco do Nordeste, pois foi escolhido num edital para a cultura. Nesse caso,  também tive que desembolsar algum por que devido aos dispêndios com impostos não sobrou o valor ideal para publicar mil exemplares.
12. Qual o seu livro mais famoso? Quais são as vantagens de ser um poeta?

     Não sou famoso. Minha mãe é mais famosa  que eu na rua Minervina Barros, no Santos Dumont.

13.  Você gosta de ler? Que tipo de livro? Quando você era criança e adolescente já gostava de ler?

Há três verbos que não se  pode colocar no imperativo: amar, morrer e ler. Desde que me entendo por gente ando com livro debaixo dos braços. Na hora do vestibular lembrei que, quem gosta de ler, podia ser professor.  

14. Na sua opinião, o que você acha da poesia nas escolas? E  o que você sente ao ver jovens se inspirando em você e escrevendo poemas?


“Atesto para devidos fins/ que a poesia não está morta/apesar dos inimigos de planta/a escola, a Xuxa, o Domingão do Faustão. A escola.  Infelizmente. mais atrapalha que ajuda a poesia.    Poesia é para ler e sentir,  não para explicar. A gente conta com poucas pessoas para levar a poesia adiante.

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