quarta-feira, 9 de setembro de 2015

O RESPEITO À LÍNGUA - Antonio Carlos Mangueira Viana

O RESPEITO À LÍNGUA
 

Foi Clara Angélica quem tocou no assunto, dizendo que tanto aqui, no Brasil, quanto lá, nos EUA, onde ela mora, o desrespeito à língua é comum. Foi isso que entendi. Se não, que ela me corrija, por favor.
Em tempos de mensagens rápidas, é normal que a gente tenha preguiça de acentuar (eu mesmo tenho), de escrever a palavra inteira (quando posso, a reduzo ao essencial), de escrever frases com começo, meio e fim (isso evito). Afinal o meio é a mensagem, já nos dizia um dos papas da comunicação do século que deixamos para trás faz pouco tempo.
O respeito à língua vai muito além disso. Nessas comunicações diárias, quando a pressa é quem manda, acho normal fazermos supressões. O grande problema está em quem faz isso com consciência e quem não o faz. É como dizem de Picasso. Para ele desconstruir a figura, antes aprendeu a fazê-la com todos os detalhes. Quem já viu seus desenhos minuciosos entenderá isso facilmente. O mesmo podemos dizer de quem desconstrói a língua por sabê-la demais. Ninguém chega a fragmentar bem uma frase se não aprendeu como estruturá-la perfeitamente.
Chegamos então ao ponto crucial da questão: o nosso ensino é uma lástima. Antes de aprender a escrever uma frase perfeita, o adolescente já escreve frases caóticas e continuará assim porque a escola não se preocupa com os meios que ele utilizará em sua vida para se comunicar. Aí entra aquele amor à língua que aprendemos no passado com professores que não podiam ouvir um "pra mim fazer" sem se arrepiar. Não vou ficar lamentando o presente em relação ao passado. Apenas detecto que há muito se perdeu o amor à língua, à linguagem. É triste ver mesmo pessoas que querem ser escritores sem o mínimo domínio da gramática e da linguagem. Daí os textos cheios de clichês ou de criações linguísticas de mau gosto. Sou dos que ainda se arrepiam com um "lhe vejo amanhã" . Na linguagem cotidiana, tudo bem, ninguém vai ficar gastando regência numa simples despedida, mas, se gastar, nada contra. Num texto coloquial, tudo é questão de adequação.
E de onde vem tanto desamor à língua. Sinal dos tempos, diriam alguns, quando ninguém se preocupa com miudezas como "lhe amo tanto!". Para respeitar seu idioma, e por extensão a própria pátria, só mesmo uma boa educação. "Minha pátria é minha língua", canta Caetano o verso de Pessoa, para poucos ouvidos.



ANTONIO CARLOS MANGUEIRA VIANA

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